sábado, 6 de março de 2010

Vozes da seca

Ano de eleição é a mesma coisa: mal se começa e já se falam em política, em políticos mostrando os dentes, pousando de messias, comparando sua gestões aos anteriores, como se fosse uma briga entre os bons e os ruins, como se todos não fossem bons e ruins. Na verdade, o que se vê é uns cobrando consciência política e a outros faltando tal consciência. Se você não fala sobre política é alienado, mas pergunto como falar sobre política se os próprios políticos embaralham esse assunto de um jeito que nem eles mesmo compreendem?

Buscando na música brasileira e em especial, na nordestina, encontro no repertório de Gonzaga algo que fala bem sobre política, sobre o eterno problema da seca, sobre a questão da esmola. Incrível como Gonzagão conseguiu em uma só canção, com uma linguagem simples e regional, abordar três temas tão polêmicos, confusos e que dão um nó em nossa mente de uma forma que as conclusões são sempre distintas e pessoais.

Vozes da seca
(Luiz Gonzaga e Zé Dantas)

Seu doutô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão

É por isso que pidimo proteção a vosmicê
Home pur nóis escuído para as rédias do pudê
Pois doutô dos vinte estado temos oito sem chovê
Veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê

Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage
Dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage
Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage
Lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage

Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação!
Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão
Como vê nosso distino mercê tem nas vossa mãos

Um forte abraço a todos!

2 comentários:

Anônimo disse...

Nosso mestre Gonzagão foi realmente um gênio! Entendia muito mais sobre questões políticas e econômicas do que certos graduados, mestres e doutores.
A canção "Vozes da Seca" surgiu durante um período de grandes calamidades no nordeste, com pessoas padecendo sob o crivo do esquecimento.

Pena que o mestre não viveu para ver um legítimo representante do povo assumir o poder e desviar os olhos da nação para regiões antes esquecidas: o norte e o nordeste.

Beijos!!!

Vinícius Faustini disse...

Linda música esta, Everaldo. Há muito tempo não a ouço, muito obrigado mesmo por este resgate.

Do extremo oposto da seca eu gosto muito de "Seca d'água", poema de Patativa do Assaré que foi lado B do compacto "Nordeste Já" (aquele do "Chega de mágoa". Recomendo que apareça aqui no blogue ela também.

Abraços, homem!

Vinícius Faustini

www.diariodeumsalafrario.blogspot.com